Carta à Mariazinha VI - Esquartejaram-me a esperança

Mariazinha,

Viram-te passar

Não eras carne nem eras alma

Sugerias ser apenas como ondulação do mar

Nula de feições

Reflectias, Mariazinha

Anos esvaziados, envelhecidos em nós

Nesta busca insaciável

Em que jamais nos atravessamos

Carregavas, Maria

O frígido olhar da alvorada

Num silêncio esmorecido

Sorriso seco e desconsolado

O ressoar da tua voz

Desvaneceu -se na escuridão

Esvaziaste -te no horizonte

Para que nunca te reencontre  

...

When you fall frail

For the love of words

Nothing else is of real relevance

Beauty is

Never "with-out"

...

IN-SENSATUS

Sem nunca te anunciares

Deslizas-te em mim

Ardes... quente, picante

Aceleras-me o sangue

Sopras-me segredos

Murmuras os teus medos

Tatuo a pele

Com a saliva dos teus versos

E é inundado pela emoção

Até ficar sem voz

Que rogo, gemo, imploro

Afogo-me nesta paixão

Que, desagua na tua foz

Por segundos todo teu

Embebedas-te em mim

Secas-me a garganta

Sugas-me o suor

Consomes-me

Somes-te, daqui

Cruel advinhas-me

Pertencer só a ti

...

E quando me disserem 

Que os dias,

Não terão mais sabor

Continuarei firme,

Continuarei certa

Quando as cortinas caem

Continuo a ser eu,

Escreve-se em mim

Um novo poema 

...